terça-feira, 15 de abril de 2014

Por que uma guitarra boa é tão cara? - Parte III

Parte I
Parte II

Existem diversas formas de dar um acabamento à uma guitarra, baixo ou violão. Algumas formas são bastante simples (e podem ser bonitas mesmo assim). Outras formas de acabamento podem ser funcionais, ou elevar um instrumento ao status de obra de arte devido à sua exclusividade.

O acabamento do corpo de um instrumento pode variar entre acabamentos que deixam a madeira totalmente exposta, dando um visual mais natural ao instrumento, até pinturas sólidas e trabalhos de escultura e marchetaria.

Esse assunto é bastante extenso, e talvez não consiga cobrir todos os aspectos que desejo em apenas um post, logo...

Acabamento Natural

Acabamentos naturais são mais comuns em violões, violinos, baixo elétrico e etc. Nesse tipo de acabamento, normalmente a madeira é encerada ou envernizada. Um detalhe importante no acabamento natural, é que nesse tipo de acabamento é difícil esconder imperfeições No caso da cera, o acabamento é menos brilhante e tem um feeling mais natural até mesmo que o verniz.

Esse tipo de acabamento é feito com óleos e ceras como o Birchwood Casey Tru-Oil. É um acabamento muitíssimo utilizado em baixos com braço inteiriço e acabamento natural.



Na imagem acima, o detalhe de um baixo com acabamento natural em verniz da Mayones Custom Shop. Como pode ser visto na imagem, todos os detalhes da madeira, bem como todas as junções das peças ficam expostos nesse tipo de acabamento. Apesar de ser o tipo de acabamento mais simples e barato que se pode ter (principalmente no caso da cera), não dá para esconder um material ruim ou mal trabalhado com esse tipo de acabamento.

Bursts com Transparência

Um tipo de acabamento clássico é o acabamento do tipo Burst, como o famoso e popular sunburst. Nesse tipo de acabamento, costuma-se deixar a parte central do corpo com uma coloração translúcida, e as bordas com uma cor mais escura, que pode ser sólida ou também translúcida.

Esse tipo de acabamento, por ser um intermediário entre o natural e o sólido, também expõe muitos detalhes da madeira. Nos casos em que as bordas e partes traseiras são pintadas em cores sólidas, apenas o centro fica exposto, como na imagem abaixo:

Corpo de Fender Stratocaster Sunburst - Detalhe das cavidades em tinta condutiva

Pintura Sólida

A pintura sólida é a favorita dos fabricantes de instrumentos baratos, pois é uma das mais baratas (é tão barata quanto verniz, mas não tanto quanto a cera), mas possibilita esconder defeitos das madeiras e também falhas construtivas.

Além da camada de pintura, em si, alguns fabricantes utilizam resinas para deixar a madeira mais lisa, e também para facilitar a aderência da tinta ao corpo do instrumento. Segundo alguns luthiers, esse tipo de resinagem prejudica um pouco a sonoridade do instrumento, além de impedir que a madeira "respire". Dessa forma, uma guitarra resinada sempre terá o mesmo som, pois a madeira não terá suas propriedades alteradas com o passar do tempo, já que a umidade estará aprisionada sob a pintura.

Uma pintura sólida não significa que o instrumento é ruim, é apenas uma pintura mais simples e mais barata. A Gibson, de longa data (início dos anos 80), utiliza a pintura sólida em guitarras com tampo de maple padrão, não-figurado, que não seriam muito beneficiados com um acabamento translúcido ou natural. As Gibson Studio em geral possuem pintura sólida, mas não pense que por isso a pintura é ruim: a Gibson pinta todas as suas guitarras com exatas 6 demãos de Nitrocelulose, que segundo informações de luthiers, é um tipo de tinta que permite a madeira respirar, apesar de ser uma pintura considerada sensível.

Em tese, a sonoridade proporcionada pelo corpo de uma Les Paul Studio é a mesma de uma Les Paul Standard. A diferença de preço se daria pelo acabamento, o tampo, que nas Standards é figurado, e os componentes, que nesse caso trazem também diferenças sonoras ao instrumento. No caso das linhas Tribute, a Gibson utiliza também a pintura com nitrocelulose, mas neste caso, sem o acabamento brilhante, dando um aspecto mais antigo, diminuindo o preço do instrumento.

Uma curiosidade da Gibson é que na pintura de suas guitarras é utilizada uma essência de baunilha, que deixa as guitarras com cheiro de sorvete, o que se tornou uma assinatura dos modelos Gibson (nas tribute isso não rola).

Outro tipo de tinta muito utilizado é o uretano, que vem sendo utilizado amplamente pela Fender em suas guitarras. É uma tinta que não necessita de resinagem, e é bastante durável.

Acabamento funcional

Além do que já foi explicado nesse artigo, o acabamento pode ter um aspecto funcional. Um exemplo de funcionalidade é a utilização de cera no acabamento dos braços. Embora uma pintura ou verniz seja muito dê um acabamento muito bonito ao braço de um instrumento, a cera faz com que a mão esquerda deslize com mais facilidade pela parte de trás do braço, pois é menos aderente que a tinta ou o verniz. Desse modo, guitarristas que toquem estilos mais rápidos preferem braços encerados, ou até mesmo o braço sem nenhum tipo de pintura ou cera.

O grande problema do uso de cera no braço, é que esse tipo de acabamento exige mais cuidados na manutenção do instrumento, pois o suor das mãos pode se impregnar à madeira fazendo-a escurecer:


Uma outra utilização de acabamento funcional está na pintura das cavidades eletrônicas dos instrumentos com tinta condutiva, como pode ser visto na segunda foto desse artigo. Esse tipo de pintura diminui as interferências eletromagnéticas na parte eletrônica do instrumento, evitando ruídos indesejados, e até mesmo interferências de rádio frequência (já rí muito com guitarras que sintonizam rádio AM e FM. Imagine no meio de uma missa começar a tocar um forró de duplo sentido nas caixas de som da igreja, ou um metal do Sabath \m/).

Bom, por hoje é só. Mas a notícia boa é que como essa semana é mais curta, poderei escrever mais, logo, teremos mais um artigo, falando um pouco mais sobre acabamento, e depois dessa brincadeira, vamos concluir a série falando sobre componentes de hardware e eletrônica.

Até!!!

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